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  • Foto do escritorJosuel Junior

Precisamos falar de... Cia. Teatral H2O


Com trabalho ativo no Recanto das Emas, a Cia. H2O ousou em apostar na produção de um festival nacional numa cidade em que a cena teatral ainda não possui a adesão dos grandes meios de comunicação no segmento de arte e cultura.


Foto: Daniel Fama

Quando recebi o convite de Kacus Martins e Marcio Rodrigues para compor a equipe de assessoria do Festival Nacional de Teatro de Bolso do DF não pude prever o quanto esse evento poderia ser tão expressivo na comunidade artística envolvida. A princípio, um festival modesto de teatro de bolso onde a linha colaborativa seria uma das protagonistas da linha de produção. Fruto da aprovação em um edital regionalizado do DF, o FNTB contou com a ajuda popular para ser levantado e apresentado.

Na ideia inicial, um chamamento a artistas de todo o país seria feito para que as propostas fossem avaliadas por um grupo de curadores. Timidamente, foram chegando materiais de todo o Brasil. Como se tratava da primeira experiência da Cia. H2O, não havia um modelo para mostrar aos interessados como ele funcionaria, de fato. Houve então a confiança de todos: dos parceiros (como eu), da mídia local e dos artistas interessados em trazer ao DF suas obras teatrais. Que a equipe era capaz, não havia dúvida, afinal, não é sempre que se consegue aprovar um projeto no FAC - Fundo de Apoio à Cultura do DF - com pontuação máxima. E eles conseguiram.

Dentre os primeiros desafios, o alojamento dos artistas selecionados. Para atender à essa demanda, casas da comunidade e de amigos do projeto foram alugadas e emprestadas. Tudo com muito carinho, esmero e dedicação.

Descobri com o passar dos dias que havia uma certa resistência das redações de cultura de Brasília em abrir espaço para falar de um festival de teatro numa cidade em que as notícias são prioritariamente de cadernos policiais, mas não especificamente de cultura, que era o nosso foco. Cidades como Samambaia, Taguatinga, Gama e Ceilândia já têm uma tradição teatral muito forte e, por mais que a Cia. H2O seja conhecida no DF, suas ações de arte e cultura pouco são difundidas nos habituais jornais e sites da capital. Para que o trabalho de assessoria fosse equilibrado, justo e coeso, tive o desafio de ligar de redação em redação, explicar a dificuldade de inserção nas abas de agenda cultural e deixar claro que valia muito a pena apostar nessa ousada aventura, que durante uma semana levaria espetáculos de qualidade e graça ao público. Deu certo! O FNTB foi notícia de destaque no período em que esteve em cartaz.

O que muito ajudou nesse processo foi a diversidade das propostas selecionadas. Artistas da cidade, como Tereza Padilha e Claudio Falcão estavam acompanhados de ótimos artistas de outros estados, como Vitor Placca, Amarildo Félix, e Lucas Sancho (todos de SP). Esses são apenas alguns dos nomes dos tantos artistas que lotaram a sala de teatro (de bolso) do Espaço Cultural H2O. Cenicamente, o festival estava muito bem amparado. A diversidade na programação deu todo um charme ao evento e representou um ganho considerável para a cena teatral brasiliense.


FNTB

Mesmo com o caráter competitivo, o festival conseguiu agregar a todos e desenvolver, quase que manualmente, uma linha de produção simpática, atenta e comprometida para o bem estar do público e dos artistas. E pensaram em tudo mesmo... Havia um pequeno foyer com exposição de materiais artesanais locais, uma lanchonete pequenina e prática e até um puxadinho que se transformou num agradável camarim.

Funcionou assim: Durante o dia, algumas oficinas foram aplicadas por artistas para artistas e para a comunidade. De tardezinha, um simpósio entre companhias que apresentaram no dia anterior esquentava a roda de conversa entre plateia e artistas. Havia sessão de espetáculo às 4h da tarde e outra sessão, com outro espetáculo, às 9h da noite. Esse expediente foi utilizado até o final da semana, quando a premiação foi realizada, encerrando o evento.

Porém, antes de terminar esse texto, quero lembrar um pouco da figura de Kacus Martins, amigo de outros carnavais que conheci nas tantas apresentações que fez com outra amiga já falecida, a diretora e atriz Verônica Moreno, que desenvolvia um ótimo trabalho na cultura local do DF. Kacus sempre foi pra mim essa figura que eu encontrava nas filas dos eventos culturais, mas nunca nos aproximamos tão expressivamente. Estivemos juntos na produção do projeto Brasília Cênica, em 2017 e foi a partir desse feliz encontro que estreitamos os laços de trabalho. Kacus é um artista de resistência, que sabe muito bem as dificuldades que um gestor e produtor independente tem que enfrentar para continuar fazendo o que gosta e acredita. Encontrá-lo como "chefinho" (apelido carinhoso que nos damos de vez em quando) foi uma experiência agradável e frutífera. É notória a alegria que ele sentiu ao levantar com Marcio Rodrigues essa primeira edição do festival de teatro de bolso.

Elogio Kacus e Márcio porque realmente aprovar um projeto com pontuação máxima e já ter a segunda edição para 2019 aprovada é uma lição de empreendedorismo, criatividade, fé e persistência nas periferias.


Foto: Daniel Fama

Aprendi com o Festival Nacional de Teatro de Bolso do DF que é possível fazer um projeto consistente com sorriso nos rosto, encarando riscos e desafios com calma e leveza. Ao ler os depoimentos de vários artistas que participaram dessa semana teatral no Recanto das Emas, percebo que valeu muito a pena fazer parte dessa história. Foi apenas a primeira edição... é ainda muito recente, muito diferente, mas certamente é um grande passo para produções maiores e mais recorrentes. Não sei como serão as outras edições, mas quero estar junto, quero contribuir, quero estar com eles com certeza.

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