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  • Foto do escritorJosuel Junior

Precisamos falar de... Matheus Avlis


Ele tem 24 anos, compõe trilhas e prepara atores para espetáculos da cidade. É professor de música e técnica vocal, estudante da UnB e... de novo: só tem 24 anos. Precisamos falar de Matheus Avlis!


Matheus Avlis - Foto de Sá Silveira

Já conhecia o trabalho de Matheus timidamente. Acho que o primeiro passo é admitir que eu realmente "stalkeio" as personagens dos textos desta coluna. Sei que há aí um misto de curiosidade profissional e pessoal, mas realmente é importante conhecer o clima, o estilo, a energia de quem a gente vai falar. Embora acompanhe o trabalho desse moço há um tempo, só agora tive noção da dimensão de seu trabalho. Confesso que fiquei felizmente chocado...

O primeiro contato que tive com Matheus foi cobrindo algumas de suas aulas no Espaço Imaginário Cultural de Samambaia. Na época, eu fazia assessoria de um projeto de oficinas no qual ele trabalhava como professor. Pouco tempo depois, soube que passou a dar aulas também para estudantes dos cursos do ator Jhony Gomantos. Entre um e outro encontro rápido após sessões de espetáculos da cidade, fui me aproximando mais dele.


Pra começo de conversa, é preciso entender o que leva uma pessoa a querer ser artista. No caso de Matheus, a querer ser músico. Segundo ele, quando criança adorava montar e desmontar seus brinquedos para saber do que eram feitos e como se organizavam as peças. Um dia viu uma orquestra sinfônica num programa de TV e levou essa metáfora de montar e desmontar a obra para a vida. Quis desvendar as partes que compunham uma música, a harmonia, a distribuição de instrumentos e performances. Obviamente, no começo da adolescência, um gosto prevalece e toma conta da gente. Enquanto a gente estava enlouquecido com Chiquititas, Sandy e Junior e até mesmo possuído pelo ritmo Ragatanga, o moço Avlis teve seu primeiro contato com a MPB. É certo que na adolescência, muitos de nós, artistas, adorávamos colecionar coletâneas e trilhas de novelas só pra ter num mesmo CD músicas de Gal, Jobim, Bethânia ou Gil. E essas drogas são pesadas, cara! Se Elis Regina, Vinicius de Moraes, Marisa Monte chegam às nossas vidas na adolescência, é quase um caminho sem volta! Nos tornamos pessoas mais sensíveis e poéticas de imediato!

Foi justamente nessa fase da adolescência que Matheus se arriscou em aplicar aulas de teoria musical e solfejo em um projeto social. Nesse período, aproveitou os dons que possuía para ensinar alunos a cantarem num coral. Essa foi a porta de entrada para migrar por diferentes coletivos e grupos. Aos 18, assistiu às primeiras aulas de regência na Escola de Música de Brasília e no Departamento de Música na UnB, não parando mais.

MAS, CALMA... VAMOS ENTENDER MELHOR:


Orquestra para a Jovem Brasília

Na adolescência, o moço Matheus estudou nos núcleos de Piano e Canto da Escola de Música de Brasília. Aos 17 anos, cantou seu primeiro solo em ópera, cantando o papel do Marinheiro da ópera barroca Dido e Eneias de Henry Purcell, numa produção do Ópera Estúdio da Escola de Música de Brasília. Confesso que demorei um pouco a entender porque os músicos sempre citam as personagens que interpretam nas óperas. Talvez pelo fato de no teatro apenas citarmos as peças que fazemos, sem maiores detalhes. Só que com o tempo fui entendendo que cada personagem das óperas têm tratos, funções e atributos vocais bem diferentes e específicos... e se você é chamado para uma interpretação específica é porque possui aptidões compatíveis com o conceito dela. Hoje já não cometo a gafe de perguntar sobre a questão dos papéis. Vivendo e aprendendo, não é mesmo?!

Aos 19 anos, Matheus codirigiu o espetáculo "La Traviata - Uma ópera muda" no 36º Curso Internacional de Verão de Brasília, com apresentação na Funarte. Apaixonado por “qualquer coisa que seja arte”, o músico vem desenvolvendo um trabalho de pesquisa de linguagem cênico-musical, cruzando diferentes territórios poéticos, passando por diferentes mídias, desde o texto e a poesia, passando pelo movimento, a dança e a performance, até o vídeo, o cinema e as artes visuais. Avlis atuou em vários corais da cidade, desde coros juvenis, passando pelos coros de alunos e pelo Coro Lírico da Escola de Música de Brasília. Já o Matheus compositor se identifica com as linguagens da vanguarda musical que se utiliza de técnicas expandidas nos instrumentos tradicionais e nos novos instrumentos, dialogando também com a música criada no computador ou em outras tecnologias eletrônicas. Assim, ao mesmo tempo em que se aventura em peças para piano preparado e noise machines – invenções do século XX, também se entrega ao estilo clássico de Beethoven e fugas ao estilo barroco de Bach. Tá pensando que é pouco? O cara manda muito e te dá uma aula da história da música só de se apresentar, seja numa conversa de whatsapp ou num texto publicado na internet.

Atualmente, Matheus é diretor executivo da Post Jam – Escritório de Produção Musical e Áudio, empresa que criou em 2017 em parceria com os compositores, César Werlon e Rodrigo Teodoro – atuando como compositor e diretor musical. Pela Post Jam, cria Música e Sound Design para cinema, teatro, dança, performance art, video art, installation art, e publicidade. No último ano, atuou como diretor artístico e regente do Coro de Câmara da Capo, integrado por alunos do Departamento de Música da Universidade de Brasília.

Dentre os trabalhos do quais fez parte, seja como compositor de trilha original, arranjador, ensaiador, diretor musical ou preparador vocal, citarei aqui alguns que com certeza você conhece ou já ouviu falar. Saca só...

“A Floresta que se vinga” (longa-metragem com direção de Lupe Leal), 2018; ;

“O Despertar da Primavera” (teatro musical com direção de Jhony Gomantos), 2018;

“Duetto” (curta-metragem, work in progress colaborativo), 2017;

“O Lá – Sobre viver em quadrados" (teatro, do Núcleo de Experimentação do Movimento - NEM), 2017;

“Eu vou tirar você deste lugar/As canções de Odair José” (musical com direção de Sergio Maggio), 2017;

“Duas gotas de lágrimas num frasco de perfume” (teatro com direção Sergio Maggio), 2016;

“O Fole Roncou – O Musical” (teatro musical com direção de Sergio Maggio), 2016.

Atualmente, o profissional está compondo obra de música eletroacústica para o monólogo do ator brasiliense Yuri Fidelis sobre o texto “Medéia” de Eurípedes, com estreia prevista para o primeiro trimestre de 2019.


É por essas e muitas outras que estão por vir que precisamos falar sobre Matheus Avlis. A decisão de escrever um pouco sobre ele veio depois de algumas conversas que tivemos pela internet. Como quem não quer nada, fui perguntando coisas pra entender melhor como tudo funciona. Admito que não entendo muito do mundo da música e dos compositores. Cheguei a perguntar se poderia ver fotos dos bastidores de suas apresentações/composições. Ele me falou algo que me deixou encantado, resumindo bem seu perfil de trabalho dentro da produção cultural. E é com essa fala que encerro o texto sobre esse profissional tão jovem e tão talentoso que, agora, faço questão de conhecer melhor:


"O trabalho como compositor é bem solitário. Eu entendo o projeto dos outros e depois fico vagando sozinho concebendo a coisa [...] sem muito espaço para registros. Eu devia fazer mais isso mesmo [...] Como regente e diretor musical há mais chance de fazer registros de bastidores, mas eu acho que me atentei pouco para isso, visto que eu quase sempre estou 'desesperado' pra não deixar a casa cair.".

AVLIS, Matheus. Brasília, 2018.


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